As políticas comerciais adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltaram a chamar atenção ao confrontar o funcionamento do sistema econômico internacional baseado na supremacia do dólar. A diferença nas tarifas aplicadas sobre produtos norte-americanos e estrangeiros, segundo Trump, seria uma das razões do persistente déficit comercial do país.
Exportações dos Estados Unidos enfrentam barreiras maiores em diversas regiões do mundo, enquanto produtos estrangeiros, como automóveis europeus, circulam amplamente no mercado norte-americano. Apesar do desequilíbrio, o dólar continua valorizado. Isso ocorre porque a moeda é amplamente utilizada como divisa internacional, sendo considerada o principal “produto de exportação” dos EUA.
A dinâmica se baseia na capacidade dos Estados Unidos de emitir moeda que é aceita globalmente. Ao importar mais do que exporta, o país envia dólares para o exterior, que são majoritariamente reinvestidos por outros países na compra de títulos da dívida pública americana. Esse movimento garante uma demanda constante pela moeda e permite o financiamento da dívida com juros baixos, muitas vezes negativos.
Esse arranjo, classificado pelo ex-presidente francês Charles de Gaulle como um “privilégio exorbitante”, só se sustenta graças à confiança na economia e nas instituições democráticas dos Estados Unidos. O sistema é sustentado por fatores como eleições regulares, independência entre os poderes e previsibilidade jurídica, características ausentes em regimes autoritários.
Ainda assim, Trump tem buscado reduzir o déficit comercial e limitar investimentos de empresas norte-americanas no exterior, contrariando os fundamentos que sustentam a hegemonia do dólar. A justificativa seria a preservação de empregos domésticos, mesmo em um cenário de baixa taxa de desemprego.
A crítica às tarifas e à estrutura do comércio global, somada à tentativa de reverter déficits históricos, evidencia uma mudança de abordagem que pode, intencionalmente ou não, impactar o próprio papel internacional do dólar.