A Polícia Federal identificou a compra de 47 imóveis por suspeitos de envolvimento em um esquema de fraudes no INSS entre 2018 e 2025. Segundo o levantamento, os bens totalizam mais de R$ 35 milhões e incluem propriedades em diversos estados brasileiros, além de transferências internacionais.
Parte das transações foi realizada pela empresa Orleans Viagens, que adquiriu 16 salas comerciais em São Bernardo do Campo (SP) e um apartamento em Diadema (SP), totalizando mais de R$ 3 milhões. A companhia também comprou 11 veículos no período e está no centro das investigações por movimentações financeiras consideradas incompatíveis com seu faturamento declarado. A Orleans alegou ter contrato com a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e nega qualquer ligação com irregularidades.
Os sócios da Orleans, Silas Bezerra de Alencar e Wagner Ferreira Moita, também estão sendo investigados. Alencar desembolsou mais de R$ 5,4 milhões em seis imóveis, enquanto Moita adquiriu apartamentos em Santos e Praia Grande (SP) por cerca de R$ 1,8 milhão. A Contag, que firmou o contrato com a empresa, também é citada na investigação. Entre seus dirigentes, o diretor Alberto Ercilio Broch comprou um apartamento em Brasília por R$ 1,6 milhão. Secretárias da entidade também adquiriram imóveis avaliados em valores expressivos.
A investigação revela que a Contag arrecadou mais de R$ 2 bilhões entre 2018 e 2025, via descontos mensais nos benefícios previdenciários de mais de 1,3 milhão de aposentados e pensionistas. Mesmo diante das evidências, a Justiça ainda não autorizou o bloqueio dos bens dos investigados. O juiz Frederico Viana alegou falta de “indícios veementes” de origem ilícita dos recursos.
Outros nomes ligados ao esquema também estão sob escrutínio. Maria Paula Oliveira, da Xavier Fonseca Consultoria, adquiriu um apartamento em Curitiba por R$ 770 mil. Já Virgílio Antonio Ribeiro de Oliveira Filho, ex-procurador-geral do INSS, comprou quatro imóveis avaliados em R$ 4,6 milhões, sendo exonerado do cargo em abril.
A investigação também abrange familiares dos envolvidos. Thaisa Hoffmann Jonasson, esposa do ex-procurador, adquiriu três imóveis em Curitiba e Campo Largo (PR), além de estar vinculada a uma empresa que comprou um imóvel por R$ 230 mil em 2024.
O diretor de governança do INSS, Alexandre Guimarães, também é citado. A empresa Venus Consultoria, da qual é sócio, adquiriu um imóvel em Brasília por R$ 180 mil. A Polícia Federal destaca ainda transferências da empresa Prospect, de Antônio Carlos Camilo Antunes, para uma empresa nos EUA com fins imobiliários, além de aquisições em Brasília, São Paulo e no exterior.
Antunes, conhecido como “careca do INSS”, comprou imóveis de alto padrão e criou uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, que teria movimentado R$ 11 milhões na aquisição de apartamentos em áreas nobres de São Paulo e Brasília. Segundo a PF, essas ações visam blindar o patrimônio obtido por meio do suposto esquema conhecido como “farra do INSS”.