O ex-militar israelense Ronen Regev, marcado por perdas familiares em combate, tornou-se uma das vozes críticas à atual ofensiva em Gaza. Após a intensificação do conflito no território palestino, ele publicou uma declaração nas redes sociais pedindo que soldados israelenses desobedeçam ordens que ampliem os ataques, o que gerou repercussão no país.
Ronen carrega, há décadas, o luto pela morte de seu irmão Haim Ben-Yona e Wilmush, morto aos 22 anos em uma missão no Canal de Suez, em 1969. A lembrança do irmão está presente em sua casa, com um retrato ladeado por munições, símbolo da memória e do sacrifício. Ex-militar e pai de família, ele realiza cerimônias religiosas em homenagem ao irmão e mantém ativa sua preocupação com os rumos da segurança nacional.
A ofensiva do Hamas em 7 de outubro e os desdobramentos da guerra afetaram Ronen profundamente. Com base em sua experiência militar e no contexto de perdas pessoais, ele condenou publicamente a resposta do atual governo, liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, e pediu o boicote à chamada “8ª Ordem”, que prevê a ampliação das operações militares em Gaza.
Segundo Ronen, o ataque inicial foi resultado de falhas do governo, que agora conduz o país a uma nova crise. Seu apelo para que militares se recusem a seguir ordens é considerado inédito no cenário israelense, especialmente em um momento de fragilidade política interna e de múltiplas frentes de tensão no Oriente Médio.
O país enfrenta, além do confronto em Gaza, ameaças de grupos apoiados pelo Irã e a necessidade de manter a coesão das Forças de Defesa de Israel (FDI). Para especialistas e setores da sociedade, uma divisão interna entre os militares pode comprometer a eficácia do sistema de defesa, inclusive contra ataques de outras frentes, como Hezbollah, Houthis e forças iranianas.
A oposição, liderada por figuras como Benny Gantz, ainda não conseguiu apresentar uma alternativa capaz de unir a população em torno de uma mudança política. Enquanto isso, Netanyahu mantém maioria no Parlamento com apoio de partidos ortodoxos.
Em meio a esse cenário, vozes como a de Ronen evidenciam a complexidade do momento vivido por Israel. A memória da guerra, representada por objetos simples em lares israelenses, reforça o desejo por paz, mas também o dilema entre obediência militar e consciência individual em tempos de crise.