Mesmo com receitas recordes, os 20 clubes com maiores arrecadações no futebol brasileiro terminaram 2024 com uma dívida acumulada de R$ 12 bilhões, superando os R$ 10,9 bilhões gerados no mesmo período. Os dados são da consultoria Sports Value, que aponta um crescimento de 22% no endividamento em relação a 2023.
As receitas em alta foram impulsionadas por transferências de jogadores, que movimentaram R$ 2,9 bilhões (alta de 53%), além da expansão do marketing, que alcançou R$ 1,9 bilhão (crescimento de 36%). As bilheterias e receitas com estádios somaram R$ 1,1 bilhão, enquanto os programas de sócio-torcedor ultrapassaram R$ 850 milhões. Os direitos de transmissão, principal fonte de receita dos clubes, chegaram a R$ 3,3 bilhões, impulsionados pela atuação das ligas Libra e Forte.
Apesar do cenário favorável na geração de receita, o aumento expressivo das dívidas revela dificuldades recorrentes na gestão financeira dos clubes. Os altos juros no país e a dependência de empréstimos e refinanciamentos fiscais contribuíram para o cenário. Em 2024, os gastos com compromissos financeiros ultrapassaram R$ 1,5 bilhão, enquanto as dívidas fiscais somaram R$ 2,6 bilhões, representando 22% do passivo total.
O levantamento coloca o Corinthians como o clube mais endividado, com R$ 1,9 bilhão (ou R$ 1,2 bilhão, desconsiderando a Arena). Na sequência estão Atlético-MG (R$ 1,4 bilhão), Cruzeiro (R$ 981 milhões), Vasco (R$ 929 milhões) e São Paulo (R$ 853 milhões). A estrutura de endividamento recorrente tem comprometido investimentos em infraestrutura e reforços, com parte significativa das receitas sendo direcionada ao pagamento de juros.
A falta de planejamento de longo prazo também impacta o desempenho esportivo. Contratações como a de Douglas Costa pelo Fluminense, Pedro Raul pelo Corinthians e Alario pelo Internacional exemplificam gastos com baixo retorno técnico. O Fluminense rescindiu o contrato com Douglas Costa ainda em 2024. Pedro Raul, com contrato até 2028, foi emprestado ao Ceará, enquanto Alario foi negociado com o Estudiantes após marcar apenas cinco gols.
Outro fator que pressiona os orçamentos dos clubes é a rotatividade de técnicos. O Corinthians, por exemplo, gastou mais de R$ 15 milhões com demissões e trocas na comissão técnica em 2024. Esse tipo de despesa tem agravado o quadro financeiro das equipes.
Embora Flamengo e Palmeiras sejam apontados como exceções no cenário atual, a maioria dos clubes enfrenta dificuldades para alinhar desempenho esportivo com sustentabilidade financeira, mesmo em um período de arrecadação recorde.