A China tem deixado de divulgar centenas de indicadores econômicos tradicionalmente utilizados por pesquisadores e investidores, segundo reportagem publicada pelo Wall Street Journal. A medida ocorre em meio à desaceleração econômica, crise imobiliária e saída de capitais estrangeiros, agravando a falta de transparência sobre a real situação da segunda maior economia do mundo.
Entre os dados retirados de circulação estão informações sobre vendas de terrenos, investimentos estrangeiros, taxa de desemprego, produção industrial e até estatísticas consideradas inusitadas, como o número de cremações ou a fabricação de molho de soja.
Sem explicações oficiais para as remoções, economistas e analistas têm recorrido a fontes alternativas, como imagens de satélite, consumo de energia, vendas de bilheteria de cinemas e postagens em redes sociais, na tentativa de reconstruir um panorama econômico confiável.
Repressão a análises e divergência em estimativas de crescimento
Em 2024, o economista Gao Shanwen, da estatal SDIC Securities, foi punido e proibido de se manifestar publicamente após declarar em evento nos Estados Unidos que o crescimento real da China poderia ter sido de apenas 2% nos últimos anos.
Apesar da divulgação oficial de um crescimento de 5% do PIB em 2024 — exatamente a meta estipulada no ano anterior —, análises independentes apontam discrepâncias. O Goldman Sachs estimou expansão de 3,7%, enquanto o Rhodium Group calculou 2,4%.
Indicadores de desemprego e mercado imobiliário também sumiram
A taxa oficial de desemprego entre jovens, que atingiu 21,3% em 2023, foi retirada de circulação após uma estimativa da economista Zhang Dandan, da Universidade de Pequim, apontar para 46,5%. O indicador retornou meses depois com nova metodologia, marcando 14,9%, número que analistas consideram subestimado.
Relatórios sobre vacância habitacional nas grandes cidades, que apontavam taxas elevadas, também foram removidos, assim como dados sobre vendas de terrenos, que haviam caído 48% no ano anterior.
Restrição chega às bolsas e temas sensíveis ao governo
As bolsas de Xangai e Shenzhen deixaram de divulgar os fluxos de capital estrangeiro em tempo real após saídas superiores a US$ 2 bilhões em duas semanas. A justificativa oficial foi o alinhamento com padrões internacionais.
Além disso, dados sobre mortalidade na pandemia, queda de natalidade, endividamento de governos locais e até estatísticas educacionais foram suprimidos por serem considerados temas sensíveis pelo Partido Comunista Chinês.
Para contornar as limitações, analistas estrangeiros têm feito viagens à China continental a fim de coletar diretamente informações em registros públicos. Um economista baseado em Hong Kong relatou visitas frequentes a Shenzhen para baixar dados ainda disponíveis localmente.