O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, deixou o cargo na sexta-feira, 2 de maio, nove dias após a deflagração de uma operação conjunta da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) que revelou um esquema bilionário de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A investigação apontou a existência de descontos indevidos em contracheques de aposentados e pensionistas.
A decisão foi tomada após reunião de Lupi com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto. A permanência do ministro vinha sendo considerada insustentável por integrantes do governo, especialmente pela demora em reagir às denúncias. O caso também resultou no afastamento judicial e posterior demissão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.
Segundo a PF, entidades associativas investigadas teriam recebido cerca de R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024 a partir desses descontos. Ainda não se sabe quanto desse montante foi obtido de forma irregular. Em audiência na Comissão de Previdência da Câmara, Lupi afirmou que “sabia o que estava acontecendo”, sem detalhar medidas adotadas.
A atual crise remete a um episódio semelhante ocorrido em 2011, quando Lupi foi afastado do Ministério do Trabalho durante o governo de Dilma Rousseff. Na ocasião, enfrentou denúncias de acúmulo de cargos, atuação como funcionário fantasma e uso de aeronave fretada por empresário com contratos com a pasta. A Comissão de Ética Pública recomendou sua demissão, e ele deixou o cargo.
Mesmo após os episódios, Lupi manteve-se à frente do PDT desde 2004, ano da morte de Leonel Brizola. Em 2023, retornou ao governo federal como ministro da Previdência, com apoio de Ciro Gomes, após ter apoiado Lula nas eleições de 2022.
Ao assumir o ministério, Lupi recebeu como missão reduzir a fila de pedidos no INSS. No entanto, ao final de 2024, mais de 2 milhões de requerimentos sociais e previdenciários ainda estavam pendentes. A meta de análise em até 30 dias não foi cumprida; em dezembro, o tempo médio de espera era de 46 dias.
Durante sua gestão, o ministro também promoveu sucessivas tentativas de reduzir o teto dos juros do empréstimo consignado para aposentados, o que gerou conflitos com o setor bancário e chegou a provocar a suspensão da oferta de crédito em alguns períodos.
A saída de Lupi em 2025 repete um padrão observado em sua trajetória pública: denúncias de má gestão, pressões políticas e forte desgaste público.