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Uso de Mounjaro para apneia do sono avança no exterior e acende debate sobre prescrição no Brasil

Uso de Mounjaro para apneia do sono avança no exterior e acende debate sobre prescrição no Brasil

O medicamento Mounjaro (tirzepatida), já aprovado no Brasil para diabetes tipo 2 e para o tratamento de obesidade e sobrepeso, está no centro de um novo debate profissional após sua recente aprovação nos Estados Unidos para uma nova indicação: a apneia obstrutiva do sono (AOS) de moderada a grave. Enquanto o avanço terapêutico é celebrado, a discussão no Brasil se concentra em quais profissionais de saúde estariam aptos a prescrevê-lo, especialmente no que tange à atuação de cirurgiões-dentistas.

Aprovação e mecanismo de ação

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso da tirzepatida no Brasil em setembro de 2023, inicialmente para o controle glicêmico em adultos com diabetes mellitus tipo 2 e, posteriormente, como adjuvante para o controle de peso. O fármaco atua em receptores de dois hormônios, GIP e GLP-1, promovendo a perda de peso de forma significativa.

O material original analisado menciona uma liberação da Anvisa para o tratamento da apneia do sono, porém, essa aprovação específica ainda não ocorreu no país. A novidade é a aprovação concedida em junho de 2024 pela FDA, agência reguladora dos EUA, para o uso do medicamento (comercializado como Zepbound por lá) em pacientes com obesidade e apneia do sono. O benefício decorre da redução de tecido adiposo na região das vias aéreas superiores, o que diminui a frequência das interrupções respiratórias durante o sono.

Controvérsia sobre a prescrição por dentistas

O texto de origem aponta para a possibilidade de cirurgiões-dentistas prescreverem o Mounjaro. Essa questão se baseia em resoluções do Conselho Federal de Odontologia (CFO) que permitem a prescrição de medicamentos para fins terapêuticos na área de atuação do profissional. No entanto, a prática é alvo de fortes críticas por parte de entidades médicas.

A Associação Médica Brasileira (AMB) e outros órgãos da classe médica argumentam que o tratamento da obesidade, uma doença sistêmica complexa e com múltiplas comorbidades, exige um conhecimento aprofundado que transcende a formação odontológica. A preocupação central é a segurança do paciente, que envolve o diagnóstico diferencial, o manejo de efeitos adversos e o acompanhamento de condições associadas, como problemas cardiovasculares e metabólicos.

Riscos e a necessidade de uma abordagem multidisciplinar

Especialistas da área médica, conforme repercutido no material-base, alertam para os riscos de uma prescrição sem o devido acompanhamento médico. O manejo da tirzepatida requer uma avaliação completa do paciente, monitoramento de possíveis efeitos colaterais — que podem incluir desde náuseas a quadros mais graves como a pancreatite — e o ajuste de doses ou a interação com outros medicamentos.

O debate evidencia a importância de uma abordagem integrada e multidisciplinar no tratamento de pacientes com obesidade e apneia do sono. A colaboração entre médicos, dentistas, nutricionistas e outros profissionais de saúde é vista como fundamental para garantir um tratamento seguro e eficaz, com protocolos claros e comunicação constante entre as diferentes especialidades envolvidas no cuidado do paciente.