O filósofo Roberto Mangabeira Unger, conselheiro e mentor do ex-candidato à presidência Ciro Gomes, surpreendeu aliados ao se desassociar do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Unger, que tem uma longa história com o PDT e foi conselheiro de Leonel Brizola, fundador do partido e ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, expressou seu descontentamento com o alinhamento “passivo” do partido com o governo.
Em entrevista ao Estadão, Unger criticou o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, questionando a falta de um projeto coerente para o Brasil e acusando Lula de repetir um modelo prejudicial para o país. Unger descreve esse modelo como o “pobrismo” – uma distribuição de “esmolas” por meio de programas assistenciais – e o “rentismo” – um domínio dos interesses financeiros sobre a produção.
Para Unger, este casamento entre “pobrismo” e “rentismo” impede o avanço do país. Ao mesmo tempo em que criticou Lula por parecer mais interessado em viajar para o exterior e participar de reuniões internacionais, Unger também expressou sua preocupação com a falta de um projeto nacional de desenvolvimento, uma ideia que ele fortemente respaldou durante a campanha presidencial de Ciro Gomes.
Mais do que simplesmente criticar a postura do PDT, Unger acredita que o partido não representa mais uma alternativa viável para o Brasil. Segundo ele, o governo atual se limita a aliar-se ao mercado financeiro, distribuir esmolas aos pobres e vender commodities como soja, carne e minério de ferro.
Unger fez alusões preocupantes ao estado atual do país: “O Brasil está numa situação gravíssima, 100 milhões de pessoas não têm acesso a uma rede de esgoto, 35 milhões não têm acesso à agua potável […] Não há qualquer indício de um projeto nacional produtivista e capacitador”. Ele creditou essa situação a uma falta de liderança e a uma atitude laxista por parte do governo.
Sobre a entrada do “Centrão” no governo Lula, Unger não identificou isso como a causa dos problemas atuais, mas sim como uma consequência da ausência de um projeto forte e coeso.
Para Unger, o desafio da nação é fomentar uma economia do conhecimento inclusiva, diversificar a produção e promover a flexibilidade preparada. Conforme mencionado em sua entrevista, o país fervilha de criatividade e energia empreendedora e desespera-se por uma estrutura que permita transformar toda essa energia em desenvolvimento e crescimento.
Créditos: Estadão.