O segmento varejista tem enfrentado contratempos conforme visto pelas recentes oscilações da Via, antes conhecida como Via Varejo, as cinematográficas quedas nas ações abalaram a confiança dos investidores em relação à saúde financeira da corporação. Segundo fontes, na sessão de negociação de terça-feira, as ações da Via sofreram uma queda de 7,14%, fechando o dia a R$ 1,17, marcando uma desvalorização acumulada de 51,25%.
Como medida de reformulação financeira, a empresa anunciou uma Oferta Pública de Ações (follow-on) com o objetivo de arrecadar aproximadamente R$ 1 bilhão, sendo a finalidade reestruturar a composição de capital da empresa e investir nas operações de crediário dos clientes.
No entanto, a situação financeira da empresa é mais complexa do que aparenta. Os registros financeiros do segundo trimestre da Via Varejo mostram uma dívida bruta de R$ 3,7 bilhões e R$ 1,5 bilhão em risco sacado, além de R$ 8,7 bilhões em empréstimos e financiamentos. A empresa ainda destaca que os R$ 5 bilhões repassados para as instituições financeiras são referentes a operações de crediário, sublinhando a importância do follow-on recém-anunciado.
De acordo com Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, a atual oferta pública de ações, embora positiva, não será suficiente para solucionar a situação financeira delicada da Via. Ferrer ressalta que a empresa esgotou os R$ 4 bilhões arrecadados em uma oferta pública de ações em 2020, uma evidência de operações ineficientes.
Os atuais problemas da Via se originaram em 2014 quando a organização separou suas operações online das lojas físicas, criando uma concorrência interna prejudicial. Desde então, a empresa tem buscado reverter sua situação com mudanças, incluindo o nome da empresa e o código negociado na bolsa, mas sem êxito.
Lucas Rietjens, analista especializado em varejo da Guide Investimentos, acredita que o mercado já esperava a oferta pública de ações, contribuindo para as recentes quedas nas negociações. O analista também enfatiza que o baixo lucro operacional da empresa não é suficiente para cobrir os juros da dívida, causando apreensão em todos os investidores.
O ambiente macroeconômico desafiador e o alto endividamento das famílias também afetam negativamente a Via, que sofre com concorrência acirrada e a falta de um diferencial que possa oferecer bolso competitivos. A situação se complica ainda mais com os indicadores fracos do segundo trimestre, quando a empresa registrou um prejuízo de R$ 492 milhões.
Alguns especialistas acreditam que os investimentos agressivos da Via no início da pandemia podem estar relacionados à compensação dos diretores da empresa, que é ligada a uma alta nas ações da empresa. Na verdade, constatou-se que cada um dos cinco diretores da Via receberia, em média, R$ 19 milhões se a empresa atingisse suas metas para 2022. No entanto, após registrar prejuízo de R$ 342 milhões no ano passado, essa compensação não foi paga.
O fim dessa narrativa turbulenta ainda é incerto para a Via, considerando o cenário macroeconômico soturno e a contínua insegurança dos investidores. A Via, que possui cerca de 1,6 bilhão de ações distribuídas, informou que a maior porção pertence ao fundo de ações Goldentree, com o empresário Michael Klein, filho do fundador das Casas Bahia, retendo 2,51% das ações.