O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva atingiu um marco inédito em seu terceiro mandato: 38% dos ministérios estão sob o comando do Partido dos Trabalhadores (PT), maior participação da sigla desde 2003. O dado foi revelado por levantamento do jornal O Estado de S. Paulo e destaca uma concentração superior à registrada em mandatos anteriores do próprio Lula e de outros presidentes.
A atual proporção supera os 36% de 2003, os 33% de 2007, além dos 32% de Dilma Rousseff e dos 34% de Michel Temer. No governo de Jair Bolsonaro, o índice foi de 9%. Com a nova configuração, o PT lidera 13 ministérios, incluindo áreas estratégicas como Fazenda, Educação, Saúde e Casa Civil.
A seguir, a lista de ministérios atualmente sob controle do PT:
- Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar
- Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome
- Direitos Humanos e Cidadania
- Educação
- Fazenda
- Igualdade Racial
- Mulheres
- Saúde
- Trabalho e Emprego
- Casa Civil
- Secretaria-Geral da Presidência
- Secretaria de Relações Institucionais
Desde o início do mandato, a estrutura ministerial passou por 12 mudanças, sendo seis apenas em 2024. Parte das substituições atendeu a demandas internas do partido ou a crises, como a exoneração de Juscelino Filho do Ministério das Comunicações, após denúncias de corrupção.
De acordo com especialistas, a atual distribuição ministerial revela um perfil mais centralizador do presidente Lula, em contraste com a proposta de frente ampla apresentada na campanha de 2022. Segundo o cientista político Leandro Consentino, todos os ministérios que funcionam no Palácio do Planalto estão sob comando do PT.
Apesar do espaço ocupado na Esplanada, o governo enfrenta dificuldades para consolidar apoio no Congresso. Siglas como União Brasil, PP, MDB, PSD e Republicanos, embora integrem o primeiro escalão, têm votado contra o governo em pautas importantes. Essa adesão parcial ocorre, muitas vezes, sem respaldo das cúpulas nacionais, o que enfraquece a coesão da base aliada.
O PDT, por sua vez, anunciou o rompimento com o governo após a saída de Carlos Lupi da Previdência. O líder da bancada na Câmara, deputado Mário Heringer (MG), criticou a condução do episódio. Já o PSD expressa insatisfação com o espaço ocupado, especialmente com o Ministério da Pesca, considerado de baixa relevância política. O presidente do partido, Gilberto Kassab, tem defendido candidatura própria em 2026.
A fragmentação no Legislativo reflete um novo modelo de articulação. Com emendas parlamentares em valores recordes e bancadas mais autônomas e ideologizadas, o Executivo tem adotado uma negociação mais pontual, voltada a temas específicos, em vez de alianças amplas e duradouras.