A Polícia Federal encontrou documentos que indicam vínculo direto entre o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, e ex-dirigentes do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Apontado como figura central em um esquema de descontos indevidos em aposentadorias e pensões, Antunes teria movimentado mais de R$ 53 milhões por meio de contratos com associações e empresas ligadas ao setor previdenciário.
Durante as diligências da Operação Sem Desconto, foram localizados cadernos com anotações no escritório de uma das empresas de Antunes. Os registros mencionam repasses ao então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, exonerado do cargo após o início das investigações. A defesa do empresário afirmou que as acusações não correspondem à realidade e aguarda o avanço do processo para comprovar sua inocência.
A PF também identificou que a empresa Prospect Consultoria, controlada por Antunes, recebeu R$ 11 milhões de uma entidade com vínculo oficial com o INSS. Parte da documentação foi apreendida no escritório de Eric Fidelis, filho de André Paulo Felix Fidelis, ex-diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão do INSS.
Outro ponto investigado envolve a Xavier Fonseca Consultoria, registrada em nome de Maria Paula Xavier da Fonseca Oliveira, irmã de Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, procurador-geral do INSS afastado temporariamente. Notas fiscais da empresa, emitidas entre 2023 e 2024, foram apreendidas em endereços ligados ao grupo. Segundo a PF, empresas relacionadas à esposa de Virgílio teriam recebido R$ 7,54 milhões de Antunes.
Virgílio também é citado por autorizar descontos em mais de 34 mil benefícios vinculados à Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), contrariando parecer técnico da Procuradoria do INSS. Sua defesa declarou que ainda não teve acesso completo aos documentos do inquérito.
Entre 2019 e 2024, as associações aplicaram R$ 6,3 bilhões em descontos nos benefícios previdenciários. Um levantamento com 1,2 mil beneficiários apontou que 97,6% não autorizaram as cobranças. A Ouvidoria do INSS recebeu cerca de 5 mil reclamações e mais de 700 denúncias no período entre janeiro de 2024 e fevereiro de 2025. As informações foram prestadas por Stefanutto em resposta a um requerimento oficial.