Mundo

Partido Liberal Democrático (LDP) perde maioria no parlamento japonês pela primeira vez em 15 anos

Partido Liberal Democrático (LDP) perde maioria no parlamento japonês pela primeira vez em 15 anos

O Partido Liberal Democrático (LDP), que há décadas domina a política japonesa, perdeu sua maioria na câmara baixa do parlamento nas eleições de domingo (27), um resultado inédito que coloca em xeque a continuidade do governo e lança incertezas sobre o cenário político no Japão. Com apenas 215 das 465 cadeiras da Câmara dos Representantes, o partido governista, junto ao parceiro Komeito, não alcançou as 233 necessárias para a maioria, marcando a primeira vez em 15 anos que o LDP fica em posição minoritária. A perda é atribuída ao crescente descontentamento público com a inflação e a um escândalo de financiamento político, fatores que impactaram a imagem do partido e seus líderes.

Resultado e reações: queda na confiança e desafios para Ishiba

Shigeru Ishiba, primeiro-ministro do Japão, reconheceu que o resultado reflete um “julgamento extremamente severo” por parte dos eleitores e destacou a necessidade de promover reformas internas para restaurar a confiança. Em pronunciamento nesta segunda-feira (28), Ishiba afirmou que não deixará o cargo, optando por intensificar as mudanças no partido. “Volto ao início e promoverei reformas internas severas”, declarou, sinalizando que a prioridade do governo é estabilizar a economia e combater a alta dos preços, desafios principais apontados pelos eleitores nas urnas.

A posição do primeiro-ministro agora depende de sua capacidade de reorganizar alianças. Embora o LDP possa buscar apoio de outras siglas para uma nova coalizão, também existe a possibilidade de adotar um governo minoritário, uma decisão que deve ser negociada com cautela para evitar desgastes adicionais.

Eleições impulsionam oposição e sinalizam descontentamento popular

O Partido Democrático Constitucional do Japão (CDPJ), principal partido de oposição, registrou crescimento expressivo, passando de 98 para 148 cadeiras. Yoshihiko Noda, líder do CDPJ, celebrou o resultado como um “marco importante” ao quebrar a maioria do partido no poder, sublinhando que o apoio crescente à oposição indica uma insatisfação generalizada.

A derrota do LDP reflete, em grande parte, a resposta do público a problemas econômicos e a um escândalo envolvendo financiamento político. Acusações contra membros do LDP apontam uso irregular de fundos e pagamentos suspeitos a legisladores, uma situação que minou a confiança no governo. Mesmo com mudanças promovidas pelo ex-primeiro-ministro Fumio Kishida e a promessa de afastar os envolvidos, o partido sofreu desgaste, impactando a votação.

Cenário econômico desafia estabilidade política no Japão

A economia japonesa, marcada por um iene desvalorizado e taxas de inflação elevadas, está entre as principais preocupações do eleitorado. Durante a campanha, Ishiba prometeu políticas de alívio, como o aumento do salário mínimo e apoio financeiro para famílias de baixa renda. Contudo, os eleitores indicaram insatisfação com as respostas do governo aos desafios econômicos. Para o analista político Kenji Sato, “a perda de apoio ao LDP reflete uma exigência da população por medidas mais eficazes que revertam o impacto econômico nos lares japoneses”.

A derrota coincide com as proximidades das eleições americanas e com a relação estreita entre Japão e Estados Unidos, o que adiciona uma dimensão geopolítica ao quadro interno. Ishiba reafirmou seu compromisso em fortalecer a parceria com os EUA e aprofundar a cooperação de segurança, especialmente frente à crescente influência da China e às ameaças da Coreia do Norte. Ele também busca manter a ordem internacional baseada em regras, um ponto central da estratégia japonesa.

Próximos passos: LDP em busca de nova coalizão e estabilidade

Com a perda de apoio e a necessidade de reformas, Ishiba enfrenta um período de negociações para definir uma nova estrutura de governo. O LDP poderá se unir a outras forças políticas ou avançar com um governo minoritário, decisão que pode definir o futuro da liderança de Ishiba e do próprio partido. Este momento de instabilidade, segundo especialistas, representa uma fase crucial para o LDP, que terá que responder aos desafios econômicos e ao ceticismo dos eleitores com reformas profundas para manter seu protagonismo.

O Japão, quarta maior economia do mundo, observa de perto as movimentações políticas que definirão o próximo período governamental. O resultado das eleições não apenas impõe desafios ao LDP, mas também oferece à oposição uma oportunidade de crescer e influenciar políticas em um país que, historicamente, tem sido governado pela mesma força política.