O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou a realização de um plebiscito no próximo dia 3 de dezembro com um assunto de pouca familiaridade até para os venezuelanos: a reivindicação de 80% do território da Guiana.
A questão teria tudo para cair no mesmo baú de histórias fantásticas da América do Sul, como o direito constitucional dos bolivianos ao Oceano Pacífico ou a soberania argentina das ilhas Malvinas, não fosse a tensão regional já criada. A Guiana acusou movimentações de tropas venezuelanas perto da sua fronteira e, para se precaver, anunciou exercícios militares com os americanos no mar.
O perigo, contudo, não foi notado pelo governo brasileiro e pelo Itamaraty, mais preocupados com o Oriente Médio do que em promover a paz entre países vizinhos.
No dia 3, os venezuelanos serão chamados a responder cinco perguntas nas urnas. Duas delas são especialmente preocupantes.
A quinta questão é a que mais chama a atenção: “Você está de acordo com a criação do estado da Guiana Essequiba e que se desenvolva um plano acelerado para a atenção integral à população atual e futura desse território que inclua entre outros a entrega de cidadania e RG venezuelanos, conforme o Acordo de Genebra e o direito internacional, incorporando como consequência esse estado ao mapa do território venezuelano?”
A ideia de mudar de cidadania de uma hora para outra, naturalmente, não passa pela cabeça dos 250 mil guianenses que vivem na área reivindicada e seria uma clara violação do princípio da autodeterminação dos povos. Por óbvio, são os guianenses, e não os venezuelanos, que devem determinar o próprio futuro.
Do lado brasileiro, contudo, não houve indignação alguma. O governo de Jair Bolsonaro, que já demonstrou simpatia por Maduro, parece disposto a ignorar a tensão na região.
O plebiscito de Maduro é um claro pretexto para invadir a Guiana e tentar deslegitimar a oposição. Se o ditador conseguir anexar o território guianense, ele terá um grande trunfo nas eleições de 2024.
O Brasil, por sua vez, terá que lidar com as consequências de sua complacência com o regime de Maduro. A região corre o risco de entrar em um conflito que pode ter consequências graves para a paz e a estabilidade da América do Sul.