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Lula, uma vez defensor do Tribunal Penal Internacional, agora nega conhecimento do mesmo

Lula, uma vez defensor do Tribunal Penal Internacional, agora nega conhecimento do mesmo

Em 2004, durante seu primeiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou apoio ao fortalecimento do Tribunal Penal Internacional (TPI), instituição que ele afirmou recentemente não conhecer. Em sua primeira gestão, Lula se comprometeu a reforçar a legislação brasileira com base naquelas do tribunal e promoveu o Estatuto de Roma, tratado internacional responsável pela criação do TPI.

No passado, o governo Lula havia planejado enviar um projeto de lei ao Congresso Nacional para adequar as leis brasileiras ao Estatuto de Roma. A iniciativa visava a classificação de genocídio e crimes contra a humanidade no Código Penal Brasileiro. O plano foi anunciado pelo ex-secretário nacional dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, durante a Conferência Parlamentar Ibero-Americana na Câmara em março de 2004.

Conhecido também como Tribunal de Haia, o TPI teve seu reconhecimento estendido pela sucessora de Lula, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em dezembro de 2015, durante seu segundo mandato, Dilma assinou o decreto nº 8.604, que reconhece a personalidade jurídica do TPI e estabelece privilégios e imunidades da Corte.

Recentemente, Lula e seus aliados têm defendido a punição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por sua gestão durante a pandemia de covid-19. Em abril do ano passado, na Espanha, Lula declarou que Bolsonaro “será julgado em tribunal internacional pela sua atuação na pandemia”. Mesmo sem citar explicitamente o TPI, ele fez referência ao órgão que julga indivíduos acusados de genocídio – termo comumente usado pelos petistas para atribuir responsabilidade a Bolsonaro pelas mortes causadas pelo vírus.

Na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, concluída em fevereiro de 2022, foi elaborado um relatório final acusando Bolsonaro de nove crimes relacionados à pandemia, incluindo epidemia com resultado em morte e crime contra a humanidade. O documento foi encaminhado ao Tribunal de Haia pelos senadores Humberto Costa (PT-PE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do governo no Congresso.

Em uma reviravolta recente, no sábado, 9 de abril, Lula afirmou que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, poderia ter participado da próxima Cúpula do G-20 no Rio de Janeiro, sem temer ser preso. A prisão do líder russo no Brasil, segundo Lula, seria um “desrespeito”.

Lula afirmou que “se eu sou o presidente do Brasil e ele for ao Brasil, não há razões para que seja preso”, declarou em uma entrevista ao canal de notícias indiano Firstpost durante a cúpula do G-20 em Nova Délhi.

A controvérsia em torno de Putin tem origem em um mandado de prisão emitido pelo TPI contra o presidente russo acusado de crimes de guerra, incluindo sequestro e deportação de crianças da Ucrânia ocupada pela Rússia. Como o Brasil é signatário do Estatuto de Roma, é obrigado a efetuar a prisão de Putin se ele estiver em território brasileiro.

A polêmica fez com que Putin não comparecesse pessoalmente à cúpula do BRICS na África do Sul em julho do mesmo ano. Depois do incidente, Lula revisou sua posição, afirmando que o TPI só funciona contra países “pequenos” e menos desenvolvidos, e confessou seu desconhecimento sobre a existência do TPI. Além disso, Lula deixou em aberto a possibilidade de o Brasil se retirar do Estatuto de Roma.

O Tribunal Penal Internacional foi estabelecido pelo Estatuto de Roma e entrou em vigor em julho de 2002. Trata-se de um órgão internacional permanente com jurisdição para investigar e julgar indivíduos acusados de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crime de agressão. Sua sede está localizada em Haia, na Holanda. As decisões tomadas pelo TPI podem ser aplicadas em 123 países, incluindo o Brasil, que promulgou o Estatuto de Roma em setembro de 2002.