Em julho de 2024, o deputado Adalberto Costa Júnior (ACJ), presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita), foi impedido por agentes da Unidade de Segurança Presidencial de entregar ao Tribunal Supremo um documento com críticas ao governo angolano. O material, intitulado Declaração sobre a degradação do país, apontava violações de direitos humanos e responsabilizava o governo pela crise econômica.
Mesmo diante do bloqueio policial, ACJ e outros opositores conseguiram entregar simbolicamente o documento ao Protocolo da Presidência, por meio de uma janela com grades. Segundo o deputado, Angola enfrenta “múltiplas violações dos princípios democráticos”, com censura, perseguição a opositores e repressão a manifestações públicas.
Desde que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) assumiu o poder em 1975, o país tem vivido sucessivas tensões políticas. Após uma longa guerra civil, encerrada em 2002 com a morte de Jonas Savimbi, fundador da Unita, o cenário político permaneceu marcado por disputas e denúncias de práticas autoritárias.
ACJ afirma ser alvo de ações sistemáticas por parte do Estado. Entre os episódios relatados por ele, estão:
- Ausência de entrevistas nos principais veículos estatais, mesmo sendo líder da oposição;
- Censura a eventos da Unita pela mídia pública;
- Acusações falsas de crimes como terrorismo e pedofilia, com cobertura manipulada;
- Judiciário atuando sem independência, em favor do regime;
- Confisco de fundos da Unita em processos considerados fictícios;
- Divulgação e manipulação de documentos pessoais por órgãos de segurança;
- Campanhas difamatórias na mídia estatal antes e depois de sua eleição na Unita;
- Anulação judicial de sua eleição como presidente da Unita, revertida com nova votação.
Nas eleições de 2022, ACJ obteve mais de 44% dos votos, mas foi derrotado por João Lourenço, do MPLA. O resultado foi contestado por denúncias de fraude. Segundo ele, “milhões de angolanos” acreditam que a oposição venceu o pleito, mas optou-se por não protestar nas ruas como forma de evitar confrontos.
O deputado, nascido em 1962, afirma que sua trajetória política teve início ainda na juventude, quando decidiu ingressar na Unita após conhecer pessoalmente Jonas Savimbi. Ele ressalta o papel do partido na resistência contra a ocupação estrangeira e na busca pela democracia em Angola.
Para ACJ, as categorias ideológicas tradicionais nem sempre se aplicam ao contexto africano, marcado por desigualdades profundas e desafios históricos. Ainda assim, ele vê em propostas liberais uma possibilidade de avanço, e busca aproximação com setores da direita brasileira.
Durante uma visita ao Brasil, relatou ter percebido apoio popular ao então presidente Jair Bolsonaro e criticou a ausência de laços com partidos brasileiros durante aquele governo. O deputado expressou interesse em estreitar relações com o Partido Liberal (PL).