Jornalistas e comentaristas da GloboNews entraram em atrito durante o programa “Em Pauta”, nesta sexta-feira (15), após comentarem uma decisão do presidente da Argentina, Javier Milei, de restringir manifestações em vias públicas contra decisões tomadas em sua primeira semana de governo.
Ariel Palacios falou sobre decisão de Milei de restringir protestos nas ruas da Argentina, com ameaça de processar os manifestantes que violarem a determinação.
Guga Chacra chamou a decisão de “tremenda hipocrisia” do presidente argentino, que durante a campanha pregou a liberdade, mas agora quer restringir atos contrários a ele.
Demétrio Magnoli afirmou “não ser verdade” que Milei proibiu manifestações, o que não havia sido dito pelos jornalistas.
“Na verdade, Milei está fazendo um programa de choque econômico que, obviamente, vai criar muita tensão social na Argentina. Pode ou não dá certo, mas está fazendo algo completamente diferente àquilo que falou na campanha que faria. O que queria me referir é nessa questão da restrição das manifestações, porque não é verdade que Milei proibiu manifestações de protesto. Isso não aconteceu. Todo mundo pode se manifestar nas praças, nas calçadas, nas ruas etc. O que foi proibido foram os piquetes, que na Argentina são um tipo de manifestação que visa barrar as cidades, se usa, inclusive, queima de pneus no meio das ruas. Nas democracias do mundo desenvolvido, não se pode fazer piquetes. O que está proibido são métodos violentos de se interromper a circulação na cidade”, disse Magnoli que citou os Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra como exemplos de “mundo desenvolvido”.
Guga Chacha pediu a palavra e contrariou Magnoli. Afirmou que “claro que pode [haver] manifestações” nas ruas dos EUA e pediu ao colega para “tomar cuidado” com o que diz. “Tem sempre que tomar cuidado, a gente é jornalista, o Demétrio está como jornalista no programa nesse momento, embora muitas vezes diga que não seja [jornalista], tem que tomar cuidado, ninguém falou em proibição de manifestação, nem eu, nem o Ariel, a gente falou em restrição, e isso que aconteceu é restrição sim. Você pode não concordar, mas há restrição à liberdade [de manifestação] sim. É sempre importante não acusar os demais”.
Demétrio se defendeu e negou que tenha acusado alguém de falar que Milei proibiu manifestações: “Não estou aqui como jornalista, mas como sociólogo. Não me digo jornalista. Em segundo lugar, não disse que alguém disse aqui que foram proibidas as manifestações, o que eu disse é que foi restringido um tipo específico de manifestação, que é proibido em todas as democracias avançadas”. Ainda, ele afirmou que proibir a ação de piqueteiros “não é proibição à liberdade de manifestação”, mas uma “regulamentação social dos limites da manifestação”.
Em seguida, o sociólogo Mauro Paulino alfinetou Magnoli e cobrou “compromisso com a verdade”. “No meio da discussão, o Demétrio falou que está aqui como sociólogo e não como jornalista. Eu também sou sociólogo, mas estou num programa jornalístico, numa emissora jornalística, e preciso ter compromisso sempre com a verdade jornalística. Só queria fazer essa observação”.
Guga Chacra ressaltou que ele e Ariel Palacios deixaram claro que Milei havia restringido manifestações, mas que Demétrio “aumentou” ao falar em queima de pneus nas vias.
A apresentadora do “Em Pauta”, Leilane Neubarth tentou amenizar o atrito entre os colegas. “O que eu achei muito interessante e vou dizer para vocês: veja como isso mexeu com a gente aqui, com os nossos comentaristas. Imagina como isso está mexendo com a Argentina”.
Restrição
Dois dias depois de Javier Milei anunciar medidas para impedir protestos no país, a polícia de Buenos Aires expulsou manifestantes indígenas de uma praça na cidade neste sábado (16).
Indígenas do movimento Tercer Malon de La Paz acampavam na praça Lavalle havia quatro meses para protestar contra uma reforma constitucional da província de Jujuy, no norte do país.
Em suas redes sociais, o Tercer Malón de La Paz disse que seus integrantes estão sendo “violentamente assediados pela polícia que os expulsa de um espaço público”.
A polícia, no entanto, disse que se trata de uma operação de “limpeza pública” para que a praça fique nas mesmas condições em que estava antes do acampamento.