Michele Zavodini, influenciadora conhecida por ostentar uma vida de luxo nas redes sociais, foi registrada como beneficiária de um assentamento rural vinculado ao Programa Nacional de Reforma Agrária no Mato Grosso. A informação foi divulgada pelo portal Repórter Brasil.
A inclusão da influenciadora no cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) gerou questionamentos por parte da Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Planalto (Assoplan), que representa agricultores da região. A entidade alega que o perfil socioeconômico de Michele não se enquadra nos critérios do programa.
Além de Michele, outros dois nomes foram mencionados na denúncia encaminhada à Defensoria Pública da União (DPU) e ao Ministério Público Federal (MPF): Karen Larissa Torres, servidora pública, e um fazendeiro. Ambos teriam sido cadastrados no mesmo período. A legislação atual impede que servidores públicos e pessoas com renda superior a três salários mínimos sejam beneficiadas. Diante disso, o Incra bloqueou os registros de Michele e do fazendeiro, mas manteve o cadastro de Karen ativo.
O caso está relacionado ao Projeto de Assentamento Tapurah/Itanhangá, criado em 1995 para atender mais de mil famílias em uma área de 115 mil hectares. Moradores relatam dificuldades devido à suposta ocupação por grandes produtores de soja. Segundo documentos da Polícia Federal e do MPF, mais de mil lotes foram transferidos de forma irregular, com relatos de ameaças e uso de intermediários. Em 2023, a Justiça Federal determinou a retomada de 170 lotes, embora os conflitos fundiários persistam.
Michele Zavodini possui vínculos familiares na região. Seu irmão, Leandro Zavodini, é produtor de soja e já venceu um torneio de pôquer, recebendo prêmio de R$ 3,5 milhões. Antes de atuar como influenciadora digital, Michele trabalhou no escritório de Leandro e declarou, em entrevista, que se mudou para o norte do estado para estar mais próxima da família, sem mencionar o assentamento.
Ao ser procurada, Michele afirmou desconhecer sua inclusão no programa e preferiu não comentar. Leandro, por sua vez, não autorizou a divulgação de seu nome. Karen Larissa Torres disse desconhecer a denúncia e solicitou que seu nome não fosse vinculado a informações baseadas em especulações.
A Defensoria Pública do Estado informou que abrirá uma apuração interna para ouvir a servidora. Outro citado no caso, Alex Stein Fortes, responde a uma ação civil pública por suposta posse indevida de lote e outras irregularidades. Seu advogado declarou que os fatos serão esclarecidos no decorrer do processo.
O Incra confirmou inicialmente os três nomes como beneficiários, mas posteriormente ajustou os dados, mantendo ativo apenas o cadastro de Karen. Enquanto as análises não forem concluídas, os lotes seguem vinculados aos nomes registrados, sem possibilidade de redistribuição.