A crescente escassez de dólares está influenciando significativamente a vida diária na Argentina, afetando setores vitais como saúde, automóveis, construção e alimentação. Há crescentes barreiras à importação que estão provocando uma falta na entrada de itens como insumos médicos, remédios, veículos, materiais de construção e alimentos, como palmito, abacaxi e atum.
O Instituto de Cardiologia da Fundação Favaloro, uma importante clínica privada em Buenos Aires, está vivenciando o adiamento de cirurgias devido à falta de válvulas específicas necessárias para a operação de artérias pulmonares. A Argentina importa 100% dos insumos médicos que são utilizados, sendo esse o maior gargalo no atual sistema de saúde que já está sem elementos críticos como o líquido utilizado para tomografias contrastadas e cateteres.
Estes desafios são ressaltados pelo chefe de cardiologia da Fundação Favaloro, Oscar Mendiz, ao explicar: “Ainda temos um estoque de insumos e remédios, mas ele está diminuindo, e a informação que recebemos de nossos distribuidores é que eles não têm certeza sobre futuras entregas”. Mendiz teme que o crescente número de reprogramações de cirurgias se torne uma constante, impactando negativamente o sistema de saúde local.
Além disso, outros setores da economia também estão sofrendo. O setor automobilístico parou de vender carros importados devido à falta de suprimento. A escassez de dólares aumentou a percepção da crise em um país onde a inflação é de 100% ao ano e os preços sobem até 20% mensalmente.
Números obtidos pelo jornal Ámbito Financiero, divulgados pelo jornalista Horacio Alonso, revelam que até 2019, aproximadamente 70% dos carros vendidos na Argentina eram importados. Nos últimos dois meses, esta tendência inverteu-se, com cerca de 70% das vendas referindo-se a carros nacionais.
Simultaneamente, o setor de alimentos tem enfrentado desafios através do Sistema de Importações da República Argentina (Sira), responsável por liberação de permissões para exportação de produtos e pagamento a fornecedores estrangeiros, que está proibindo a entrada de produtos finalizados.
Essa escassez de dólares preocupa especialistas econômicos como Gustavo Lazzari, que adverte: “O que estão fazendo agora é uma loucura, porque autorizam algumas importações, mas não o respectivo pagamento. Isso significa que o governo que assumir em dezembro terá dívida gigantesca em matéria de pagamentos a importações atrasada. É uma bomba-relógio”.
Estas questões são exemplos impactantes dos problemas que a escassez de dólares está causando em diversos setores da economia argentina. O país enfrenta um futuro incerto à medida que cuidados de saúde, suprimentos alimentares e vendas automobilísticas sofrem com as restrições à importação.