Durante reunião com autoridades norte-americanas em Brasília, o governo brasileiro recusou a proposta dos Estados Unidos de classificar o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) como organizações terroristas. A sugestão foi feita por uma delegação chefiada por David Gamble, coordenador interino de sanções do Departamento de Estado norte-americano, que visitou o país nesta terça-feira (6).
A proposta, apresentada pelos representantes dos EUA, visava ampliar o alcance de sanções aplicáveis às facções, com base na legislação antiterrorismo vigente nos Estados Unidos. Segundo os norte-americanos, PCC e CV têm presença em pelo menos 12 estados norte-americanos e utilizam o território para atividades como lavagem de dinheiro. Como parte das ações de contenção, a Embaixada dos EUA teria negado 113 vistos a indivíduos ligados às organizações.
O governo brasileiro respondeu que, de acordo com sua legislação, o enquadramento como terrorismo exige motivação ideológica, política ou religiosa — critérios que, segundo os representantes, não se aplicam às facções, voltadas principalmente para atividades ilícitas com fins econômicos. As autoridades brasileiras enfatizaram que essas organizações são combatidas dentro da estrutura de repressão ao crime organizado.
Durante o encontro, os representantes brasileiros citaram o isolamento de lideranças criminosas em presídios federais, operações conjuntas com Ministérios Públicos estaduais e a atuação dos Grupos de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), além da intensificação da cooperação internacional com países da América Latina.
A comitiva norte-americana incluiu, além de Gamble, representantes da Embaixada dos EUA, do Departamento de Justiça e do setor consular e policial. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o encontro foi solicitado pelo governo do ex-presidente Donald Trump.
No dia anterior, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) recebeu o assessor da embaixada Ricardo Pita. Segundo o senador, o foco da conversa foi segurança pública. Ele negou que o tema de sanções contra autoridades brasileiras, como o ministro Alexandre de Moraes, tenha sido discutido. A declaração foi uma resposta a publicações nas redes sociais que sugeriam esse tipo de tratativa. Flávio reforçou que sua participação na agenda se limitou à pauta do combate ao crime organizado.