Assim como na fábula, o Cogumelo da Morte é tão perigoso quanto charmoso. Este fungo, conhecido como Amanita phalloides, tem sido identificado como o causador de 90% das mortes por intoxicação de cogumelos no mundo todo, segundo um estudo publicado em 2021 na Clinical Toxicology.
Obra de sua morfologia delicada, com um chapéu abobadado de até 15 cm de diâmetro e cores que variam do verde ao amarelo, o Amanita phalloides pode ser facilmente confundido com cogumelos comestíveis. Seu caule esbranquiçado e guelras brancas completam esta máscara de inócuo.
O Cogumelo da Morte originou-se no Reino Unido e em algumas regiões da Irlanda, mas expandiu seu território de forma impressionante durante o último século. Em sua migração, alcançou lugares distantes como América do Norte, Austrália e Nova Zelândia.
Este fungo tem um enigma intrigante sobre como ele conseguiu chegar à América do Norte. Anne Pringle, Micologista da Universidade de Wisconsin-Madison, pontua duas teorias. Uma é que o Amanita phalloides pode ter sido trazido da Europa para a Califórnia em solo de um sobreiro destinado à produção de rolhas. Outra sugestão aponta que ele pode ter sido introduzido para embelezar jardins universitários, vindo em uma planta importada.
A toxicidade notória deste cogumelo decorre de seus peptídeos altamente tóxicos, conhecidos como amatoxinas. A ingestão destas toxinas pode ocasionar insuficiência hepática aguda, falência de múltiplos órgãos e, infelizmente, a morte.
A descrição dos primeiros sintomas pela National Herbarium of Australia (ANH) soa como um roteiro tortuoso. Dor de estômago, vômitos e diarreia aparecem entre 10 a 16 horas após a ingestão do Amanita phalloides. Após uma breve melhora, os sintomas reaparecem juntamente com icterícia. Caso não haja intervenção médica apropriada e rápida, pode ocorrer coma e morte em uma a duas semanas devido à insuficiência hepática intensa e associada ou não à insuficiência renal.
Um cenário assustador para os adeptos da micologia, mas que nos lembra da importância de termos cuidado e respeito pela natureza.
Em relação à gestão dessa questão, cientistas como Milton Drott, fitopatologista do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), defendem a necessidade de maiores pesquisas e estudos em condições laboratoriais adequadas para entender melhor a biologia do Amanita phalloides e encontrar estratégias eficazes para seu manejo.
O Cogumelo da Morte continua se espalhando, desafiando os cientistas sobre sua origem, capacidade migratória e toxicidade. Esses desafios servem também como lembretes da grandiosidade e complexidade do mundo natural ao nosso redor.