Na véspera do conclave que elegeu o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost como o novo papa Leão XIV, o teólogo Frei Betto afirmou, em entrevista, que considerava “muito, muito remota” a possibilidade de um papa dos Estados Unidos. A gravação foi resgatada e repercutida após a eleição.
Durante a entrevista ao portal Brasil de Fato, Betto disse que, com base em sua experiência com a Igreja, descartava a escolha de um cardeal norte-americano. Ele citou a opinião de outro cardeal, com participação em dois conclaves, que indicava uma forte rejeição a nomes dos EUA por serem considerados os mais ricos e arrogantes dentro da instituição. Betto também mencionou um episódio envolvendo o ex-presidente Donald Trump, cuja foto vestido como papa teria causado indignação dentro da Igreja.
Apesar das previsões, os cardeais optaram por eleger Prevost, nascido em Chicago em 1955, que ocupava o cargo de prefeito do Dicastério para os Bispos na Cúria Romana. Betto havia apostado em nomes italianos ou no cardeal filipino Luis Antonio Tagle, mas avaliou que a juventude deste último poderia pesar contra uma escolha que levasse a um pontificado prolongado. Ele também considerou improvável a eleição de cardeais africanos, classificando-os como conservadores.
Entre os italianos mencionados como possíveis eleitos, estavam os cardeais Pietro Parolin e Matteo Zuppi, este último alinhado, segundo Betto, com a linha de Francisco em temas sociais e ambientais. O frei também estimava que o conclave duraria mais do que os dois dias registrados nas eleições anteriores, devido à fragmentação entre os eleitores. No entanto, a escolha de Prevost ocorreu no mesmo tempo que os conclaves anteriores.
Betto comentou ainda sobre a influência dos cardeais com mais de 80 anos, que, apesar de não votarem, participam dos debates e convivem com os eleitores durante todo o conclave. Em relação à representatividade latino-americana, destacou o cardeal brasileiro Leonardo Steiner como figura próxima ao pensamento de Francisco, especialmente na defesa dos povos originários e do meio ambiente.
Mesmo com a nacionalidade norte-americana, Betto descreveu Leão XIV como um “peruano de coração”, destacando sua trajetória pastoral no Peru. Ele também comentou sobre o simbolismo do nome adotado, em referência a Leão XIII, conhecido por sua atuação em defesa dos trabalhadores na encíclica Rerum Novarum.
À revista Fórum, o teólogo expressou surpresa com a eleição de Prevost e observou que seu histórico latino-americano suaviza a rejeição aos cardeais dos Estados Unidos. Ainda assim, demonstrou certa decepção com o primeiro discurso do novo papa, por considerá-lo mais voltado à fé do que à justiça social.