Pesquisas recentes apontam que medicamentos injetáveis usados para perda de peso apresentam resultados mais expressivos entre mulheres do que entre homens. Estudos clínicos identificaram diferenças significativas na eficácia de substâncias como a semaglutida e a tirzepatida, sugerindo que fatores biológicos e hormonais podem influenciar na resposta ao tratamento.
Um dos estudos mais recentes foi apresentado durante o congresso anual da Associação Europeia de Obesidade e publicado no New England Journal of Medicine. A pesquisa comparou, pela primeira vez, o desempenho dos medicamentos Wegovy (semaglutida) e Zepbound (tirzepatida) em 750 participantes com obesidade. Os voluntários foram divididos em dois grupos: um recebeu a dose máxima tolerada de Wegovy e o outro, a de Zepbound.
A tirzepatida demonstrou ser mais eficaz na redução de peso, com uma média de perda cerca de 50% superior à observada entre os que utilizaram a semaglutida. Apesar disso, todos os participantes perderam menos peso do que em estudos anteriores com os mesmos medicamentos, o que, segundo os pesquisadores, pode estar relacionado à maior proporção de homens no grupo — 35%, em comparação com os 20% a 25% registrados em estudos anteriores.
Dados adicionais reforçam essa diferença de desempenho: em estudos de longo prazo com semaglutida, mulheres perderam, em média, 11% do peso inicial, enquanto os homens perderam cerca de 8%. No caso da tirzepatida, os percentuais médios foram de até 28% para mulheres e até 19% para homens.
Especialistas apontam possíveis explicações. Uma delas é que, por geralmente terem menor peso corporal, as mulheres acabam recebendo uma dose proporcionalmente maior dos medicamentos. Outro fator considerado é o tipo de gordura predominante no corpo — as mulheres tendem a acumular gordura sob a pele (cutânea), enquanto os homens concentram gordura visceral, ao redor de órgãos internos.
Além disso, pesquisadores observam que as mulheres demonstram maior tolerância aos efeitos colaterais, como náuseas, vômitos e constipação, o que pode favorecer a continuidade do tratamento. Questões hormonais também entram em pauta, especialmente a atuação do estrogênio.
Estudos conduzidos pela Dra. Karolina Skibicka, professora da Universidade de Gotemburgo, indicam que o estrogênio potencializa os efeitos do hormônio intestinal GLP-1 — base dos medicamentos em questão — ao aumentar sua ação no cérebro e o número de receptores nas células. Em experimentos com ratos, a presença do estrogênio aumentou a eficácia do GLP-1, enquanto sua ausência reduziu o efeito.
Apesar dessas hipóteses, os pesquisadores ressaltam que ainda há lacunas significativas de conhecimento. Estudos clínicos geralmente não investigam a fundo as diferenças de resposta entre os sexos, o que limita as conclusões.
Observações clínicas apontam que, embora as mulheres tenham maior perda de peso e relatem mais efeitos gastrointestinais, os homens tendem a apresentar benefícios cardiovasculares mais evidentes. Há também indícios de que mulheres possam ser mais suscetíveis a alterações de humor durante o uso dos medicamentos, embora esses dados não sejam conclusivos.
Compreender essas diferenças pode ter implicações relevantes, especialmente no tratamento de mulheres em diferentes fases hormonais, como a menopausa, ou em terapias bloqueadoras de estrogênio. Os pesquisadores acreditam que ajustes na dosagem ou na combinação de medicamentos podem ser caminhos para otimizar os resultados entre os pacientes que não respondem bem ao tratamento.