Após o anúncio de uma trégua tarifária de 90 dias entre China e Estados Unidos, empresas dos dois países intensificaram suas atividades industriais e logísticas para aproveitar a suspensão temporária das tarifas comerciais. Fábricas e portos chineses registraram alta na demanda, com destaque para o aumento de pedidos e o volume de exportações.
Empresas aceleram produção e exportações
Niki Ye, vendedora do sul da China que comercializa brinquedos na Amazon, relatou um aumento de 30% nos pedidos logo após o anúncio da trégua, o que levou sua empresa a reforçar os preparativos para atender à nova demanda.
Na região leste da China, Liu Changhai, gerente de vendas de uma empresa exportadora de móveis, afirmou que as vendas atingiram níveis típicos de alta temporada. No entanto, ele alertou para possíveis atrasos no envio, já que muitos pedidos ainda estão em fase de produção.
Com o alívio nas tarifas, empresas correram para liberar estoques retidos. Segundo a empresa Vizion, especializada em rastreamento de contêineres, as reservas para transporte da China aos EUA cresceram quase 300% na semana encerrada em 13 de maio, em comparação com os sete dias anteriores.
Reversão parcial das tarifas e impactos logísticos
O acordo firmado em Genebra entre os dois países reduziu as tarifas norte-americanas sobre importações chinesas para 30%, excluindo medidas anteriores. As tarifas chinesas também caíram de 125% para 10% sobre a maioria dos produtos norte-americanos, mantendo algumas restrições anteriores.
Ge Jizhong, presidente da Shanghai Xinhai Customs Brokerage, declarou que o período representa uma oportunidade estratégica para empresas reabastecerem estoques e movimentarem mercadorias represadas.
Ben Schwall, da consultoria STG Consultants, relatou aumento na procura por reativações de pedidos anteriormente cancelados. Algumas empresas, que haviam deslocado sua produção para países como Vietnã e Indonésia, começaram a avaliar a possibilidade de retornar à China para aproveitar a janela tarifária.
Fabricantes e transportadoras intensificam operações
Fábricas chinesas, como a de Vivi Tong, na província de Zhejiang, estão em ritmo acelerado para atender à nova demanda. A planta, que produz carros de controle remoto para o mercado norte-americano, tem trabalhado para concluir os pedidos dentro do prazo da trégua comercial.
Segundo a mídia estatal chinesa, há relatos de trabalhadores atuando em turnos estendidos e até durante a madrugada para cumprir os prazos de exportação.
Greg Mazza, empresário do setor de iluminação nos EUA, disse ter agilizado o recebimento de contêineres que estavam parados na China. Ele também destacou a pressão nos custos, tanto pela manutenção parcial das tarifas quanto pelo aumento nos valores de frete, que subiram cerca de 50% na última semana.
Incertezas e reavaliações estratégicas
O aumento na demanda também levou empresas de transporte a reverter quedas anteriores e ampliar sua capacidade. A transportadora dinamarquesa Maersk, por exemplo, registrou alta nas reservas e anunciou reforço nos serviços transpacíficos.
Ben Tracy, da Vizion, alertou que essa “corrida de exportação” pode afetar o cronograma tradicional de remessas, colocando pressão sobre a alta temporada de verão.
Apesar do alívio tarifário, a instabilidade permanece. No mês anterior, o governo Trump havia anunciado — e em parte revogado — tarifas recíprocas sobre países do sudeste asiático, como Vietnã e Camboja, o que afeta decisões de longo prazo sobre deslocamento da produção.
Greg Mazza disse estar avaliando a transferência parcial de sua produção para o Vietnã, embora reconheça que o custo unitário pode ser até 15% superior ao da produção chinesa. Ainda assim, ele reforçou sua intenção de manter laços com fornecedores chineses devido à confiança construída ao longo dos anos.
Enquanto isso, fabricantes como Vivi Tong buscam alternativas para diversificar os mercados, mirando especialmente na Europa, onde os pedidos aumentaram cerca de 20% recentemente.