Denúncias de Ex-Gerente Expõem Uso de Peças Inadequadas na Fabricação do Boeing 787 Dreamliner

Práticas Irregulares na Fábrica de Everett Colocam em Risco a Segurança e a Qualidade das Aeronaves, Alega Denunciante

13/02/2017 - REUTERS/Jason Redmond

13/02/2017 - REUTERS/Jason Redmond

Um ex-gerente de controle de qualidade da Boeing, Merle Meyers, revelou que, durante anos, trabalhadores da fábrica do 787 Dreamliner em Everett, Washington, utilizaram peças descartadas de um ferro-velho interno nas linhas de montagem. Em sua primeira entrevista na TV aberta, Meyers, com 30 anos de experiência na Boeing, detalhou à CNN Internacional uma prática não oficial que os gerentes da fábrica usavam para cumprir os prazos de produção. Essa prática incluía a retirada de peças danificadas e inadequadas do ferro-velho, depósitos e docas de carga da empresa.

Agravamento das Preocupações de Segurança

Meyers afirma que os lapsos que testemunhou foram esforços intencionais e organizados para frustrar os processos de controle de qualidade em prol de cronogramas de produção exigentes. Ele estima que cerca de 50.000 peças “escaparam” do controle de qualidade desde o início dos anos 2000, sendo usadas na construção de aeronaves. Essas peças variavam desde pequenos parafusos até montagens complexas como flaps de asa. Um Boeing 787 Dreamliner, por exemplo, tem aproximadamente 2,3 milhões de peças.

Investigação e Resposta da Boeing

E-mails internos mostram que Meyers repetidamente alertou a equipe de investigações corporativas da Boeing sobre as violações flagrantes das regras de segurança. No entanto, ele afirma que os investigadores falharam em aplicar essas regras. Meyers também levou suas preocupações a investigadores federais, um painel do Senado dos EUA e ao New York Times.

Em resposta, a Boeing declarou que investiga “todas as alegações de comportamento impróprio, como movimentação não autorizada de peças ou manuseio incorreto de documentos”, e faz melhorias quando apropriado.

Impacto das Denúncias na Cultura de Segurança

As alegações de Meyers surgem enquanto a Boeing enfrenta um turbilhão de controvérsias sobre sua cultura de segurança, incluindo uma investigação criminal sobre se ela enganou a FAA sobre a certificação do 737 Max em 2017. Um total de 346 pessoas morreram em dois acidentes do 737 Max em 2018 e 2019, resultando em intenso escrutínio e investigações federais e do Congresso.

Meyers descreve um ambiente de pressão na fábrica de Everett, onde as equipes de montagem competiam para encontrar as peças de que precisavam, muitas vezes recorrendo a práticas questionáveis para manter a produção em andamento.

Esperança de Mudança

Meyers nunca teve a intenção de se tornar um denunciante, mas agora espera que sua revelação promova mudanças na Boeing. “Espero que possamos fazer com que esta empresa se cure e volte a ser o que era”, disse ele.

Este incidente destaca a necessidade de rigorosos padrões de segurança e a importância de garantir que todas as peças utilizadas na fabricação de aeronaves atendam aos requisitos de qualidade e segurança. A confiança pública na Boeing depende de sua capacidade de resolver essas questões e prevenir futuras irregularidades.

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