“Ser rico não é pecado.” Esse foi o tema de um artigo recentemente publicado por João Camargo do Grupo Esfera que provocou um rebuliço na internet. A declaração de Camargo traz à tona a relação conturbada que os brasileiros têm com o sucesso financeiro e a ideia inegável de que existe uma hostilidade em torno da riqueza e daqueles que a defendem.
No Brasil, parece haver um consenso geral de que os ricos devem “pagar a conta”. Esta premissa é justa até certo ponto, afinal, espera-se que um sistema tributário seja progressivo. Porém, o autor insiste que a discussão não deve girar em torno do aumento de impostos, mas sim, na eficiência do Estado e no custo da gestão pública. Ele critica o atual projeto de Orçamento que, embora prometa zerar o déficit, propõe 168 bilhões de reais em novas receitas sem indicar qualquer corte de despesas ou ajustes na máquina pública.
O artigo insiste que o real debate é sobre como dirigir o país e essa questão foi ignorada durante a eleição. O autor sugere o livro “Austeridade” para compreender o tema, onde os economistas Alberto Alesina, Carlos Favero e Francesco Giavazzi concluíram que os ajustes fiscais baseados em aumentos de impostos têm um efeito recessivo no curto e médio prazo, além de aumentar o endividamento. Este efeito é registrado em contraposição aos ajustes pautados por cortes nas despesas públicas, que demonstraram ter o efeito contrário.
No caso do Brasil, o autor sugere haver uma grande oportunidade para cortar despesas públicas desnecessárias, sem prejudicar áreas importantes para a nação. Ele menciona exemplos como os altos salários no serviço público acima do teto constitucional, as emendas parlamentares, o ‘fundão’ eleitoral e o número de assessores por deputado.
Por fim, o artigo destaca a importância de confrontar a “tirania das pequenas decisões”, um termo popularizado pelo economista Alfred Kahn que descreve como pequenas ineficiências, quando somadas, podem provocar um grande problema estrutural. A melhoria dessas ineficiências não virá de uma única, grande decisão, mas de uma série de pequenas iniciativas que, juntas, representam um grande progresso.
Mudou-se o vocabulário nacional e o foco agora é o gasto público e a demanda por mais impostos. Seria esse o DNA brasileiro? Um país sem convicção de modernização e sem apetite para enfrentar escolhas difíceis, mas necessárias. A insistência em ver a riqueza como pecado apenas desvia a atenção do verdadeiro debate que o Brasil precisa para avançar.