Bolívia reconhece esgotamento das reservas de gás e confirma interrupção das exportações para Brasil e Argentina

A economia boliviana tem mais um obstáculo pela frente: a falta de gás natural. O presidente do país, Luis Arce, anunciou na sexta-feira (1) que as reservas do recurso se esgotaram, interrompendo as exportações para a Argentina e o Brasil. Essa parada poderá causar um monumental impacto financeiro na Bolívia.

Em discurso feito na cidade de Oruro, o presidente pontuou que essa falta de gás interrompeu a entrada de recursos provenientes de suas exportações. Tal dinheiro era usado para manter os governos e municípios, permitindo que pagassem seus funcionários e quitassem dívidas.

Arce, que já foi ministro da Economia do governo Evo Morales (2006-2017 e novamente em 2019), mencionou que a situação foi acarretada por décadas de superexploração das reservas de gás que foi explorado durante governos anteriores, caracterizados como “neoliberais” pelo partido de Morales, o Movimento ao Socialismo (MAS). Foi nesse período que enormes bolsões de gás natural foram encontrados.

Só para a Argentina e o Brasil, as exportações chegavam a 60 milhões de metros cúbicos por dia, rendendo mais de US$ 35 bilhões à nação boliviana. No entanto, segundo especialistas, os lucros dessas operações não foram gerenciados de maneira efetiva pelo MAS. Estima-se que, até 2029, a Bolívia ficará completamente dependente de importações de gás para uso doméstico.

Este fato, por sua vez, apresenta mais um desafio para a economia da Bolívia, visto que os gastos atuais com gasolina e diesel já são elevados, representando aproximadamente US$ 5,7 bilhões por ano.

Para evitar multas vinculadas ao descumprimento de contratos de exportação, o governo boliviano está correndo contra o tempo. Segundo acordos em vigor com a Argentina, as vendas deveriam ser mantidas até 2026, ocasião em que a Bolívia arcaria com as indenizações e multas por não honrar os volumes prometidos, algo que já ocorreu nos últimos dois anos.

Para amenizar a situação, o presidente Arce pretende sugerir ao contrato atual um adendo. Segundo Agustín Gerez, presidente da petrolífera estatal argentina Enarsa, a estatal boliviana YPFB propôs um “contrato interrompível”. Em outras palavras, a Bolívia só mandará gás enquanto houver disponibilidade.

Porém, tal proposta preocupa a Argentina. “A YPFB notificou que deseja assinar um contrato interrompível. Isso significa: ‘Eu te mando gás, se eu tiver gás; e se eu não tiver, não enviarei para você’. Isso ameaça todo o abastecimento do norte da Argentina”, disse Gerez de acordo com o Urgente24.

De acordo com o jornal boliviano El Diario, o presidente Arce deixou de mencionar erros da política petrolífera implementada pelo governo Morales em 2006, quando o petróleo foi “nacionalizado”. Ainda não se sabe qual será o impacto total dessa crise em ambas as economias da Bolívia e da Argentina.