A atmosfera política de Brasília tem estado rife com a reflexão do conselho de um sábio: “não há problema em nos humilharmos de vez em quando, desde que seja só um pouco”. Esta sabedoria tem sido especialmente relevante em meio às discussões sobre a reforma ministerial e o papel do presidente da Câmara, Arthur Lira. Pesando sobre Lira está uma investigação criminal e a necessidade de proteção política, enquanto ele também tem demandas do governo, como a substituição de ministros-chave, como uma maneira de suavizar o relacionamento com os deputados.
No entanto, o presidente Lula, apesar de estar cuidadosamente distribuindo emendas, tem adiado a reforma ministerial que poderia selar oficialmente a parceria. Ele também protegeu Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) dos pedidos de Lira, mantendo a pasta do Turismo sob controle do mesmo partido. Lira, por sua vez, pode ver que o adiamento não é causado pela hesitação de Lula em demitir alguém com apenas seis meses de mandato, mas sim por sua intenção de reduzir a dependência do governo em sua intermediação.
Lira agora enfrenta um dilema. Ele pode optar por alinhar-se com o governo, com a esperança de receber algum benefício em troca, ou ele pode escolher exercer sua independência, possivelmente dificultando a política do governo e limitando o acesso de Lula aos bancos. Qualquer opção que Lira escolha dependerá da quantidade de humilhação que ele pode suportar. Independentemente de sua decisão, é seguro dizer que o cenário político brasileiro terá um segundo semestre mais agitado do que se esperava durante as férias de julho.