O dólar encerrou o pregão desta quarta-feira (3) com uma expressiva queda de 1,72%, sendo negociado a R$ 5,569. Esse resultado positivo para o real, no entanto, não compensa a alta acumulada de mais de 14% da moeda norte-americana em 2024. A valorização do dólar teve início em abril, quando mudanças nas metas fiscais pelo governo federal reacenderam o temor dos investidores sobre o equilíbrio das contas públicas.
Metas Fiscais e Juros nos EUA Influenciam a Taxa de Câmbio
A alteração da meta fiscal de 2025, de um superávit primário de 0,5% do PIB para déficit zero, foi um dos fatores que deterioraram a percepção de responsabilidade fiscal do governo. Segundo Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, “quando a autoridade do país mostra ausência de zelo com as contas públicas, isso afeta a imagem do país, gera uma crise institucional e, consequentemente, afeta a taxa de câmbio.”
Além das incertezas fiscais internas, a sinalização do Federal Reserve (Fed) de que o corte dos juros nos Estados Unidos seria adiado também contribuiu para a desvalorização do real. Jason Vieira, economista e editor-chefe da MoneYou, destacou que “o investidor estrangeiro sai do país dada a percepção fiscal ruim, e o investidor local busca se proteger por meio do dólar.”
Impactos nos Ativos Financeiros e Expectativas do Mercado
A fragilidade fiscal do Brasil tem afetado não apenas o câmbio, mas também outros ativos financeiros, como o Ibovespa e a curva de juros. Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, afirmou que “a questão fiscal no Brasil acentua algo que já era preocupante,” ressaltando que o dólar é um termômetro sensível para a população.
As expectativas do mercado apontam que o governo deve encerrar o ano com um déficit primário de 0,7% do PIB, acima da meta de zerar o déficit fiscal. Para os economistas, a percepção de risco elevado leva os investidores a buscar alternativas mais seguras fora do país, o que agrava ainda mais a situação do câmbio.
Perspectivas para o Futuro do Real
A recuperação do real depende tanto de fatores internos quanto externos. Cristiane Quartaroli mencionou que qualquer sinalização de comprometimento do governo com as contas públicas seria positiva. No entanto, Jason Vieira destacou que ainda é cedo para prever o futuro do câmbio, que está fortemente atrelado à postura do governo e às condições econômicas globais.
Em um cenário de incerteza, a manutenção do risco fiscal elevado e a busca por investimentos mais seguros indicam que o Brasil pode continuar enfrentando dificuldades no médio e longo prazo. O desempenho da moeda brasileira será um reflexo das ações governamentais e das condições econômicas internacionais nos próximos meses.