O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central destacou, em ata divulgada nesta terça-feira (13), os possíveis efeitos do novo programa de crédito consignado privado sobre a economia brasileira. Apesar de reconhecer o potencial da medida para aumentar a renda disponível das famílias, o comitê apontou incertezas quanto ao seu impacto total e não indicou os próximos passos da política monetária.
Segundo o documento, o programa está em fase inicial e pode representar uma mudança estrutural no mercado de crédito, mas ainda não deve ser considerado um estímulo cíclico. O Copom informou que acompanhará atentamente os dados para refinar suas estimativas e adaptar sua estratégia conforme os desdobramentos.
A ata indica que o colegiado incorporou ao seu cenário de referência um impacto moderado do novo consignado no crescimento econômico, especialmente devido à substituição de dívidas mais caras por mais baratas, o que aumenta a renda disponível. Ainda assim, o efeito sobre as projeções é considerado contido.
O comitê também reforçou que medidas estruturais, como o novo consignado, serão levadas em conta na definição do nível de restrição monetária necessário para garantir a convergência da inflação à meta. Adicionalmente, destacou a importância de uma política fiscal que contribua para a redução do prêmio de risco e que atue de forma contracíclica, favorecendo a estabilidade econômica.
Na última reunião, realizada em 7 de maio, o Copom decidiu elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, fixando-a em 14,75% ao ano. Essa foi a sexta alta consecutiva, totalizando uma elevação de 4,25 pontos percentuais desde o início do ciclo, em setembro de 2024. O nível atual iguala o patamar observado entre julho e agosto de 2006.
O Banco Central persegue uma meta de inflação de 3%, com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%. Contudo, as expectativas do mercado para 2025 e 2026, segundo a pesquisa Focus, estão acima do teto, em 5,5% e 4,5%, respectivamente. As próprias projeções do BC apontam inflação de 4,8% em 2025 e 3,6% em 2026.
O Copom demonstrou preocupação com o descolamento das expectativas inflacionárias e o comportamento persistente dos núcleos de inflação, sobretudo nos serviços, influenciados por um mercado de trabalho ainda aquecido. Também houve avanço nos preços de bens industrializados e alimentos, parcialmente motivado pela depreciação cambial.
Diante desse cenário, o comitê reiterou a necessidade de manter a política monetária significativamente contracionista por um período prolongado, visando assegurar a convergência da inflação à meta.
A ata ainda abordou o agravamento do ambiente externo, impulsionado pelas medidas comerciais dos Estados Unidos, como o aumento de tarifas implementado pelo presidente Donald Trump, e pela desaceleração da economia norte-americana. O Copom avalia que esse contexto amplia os riscos para países emergentes, incluindo o Brasil, afetando decisões de investimento e consumo.
Combinando fatores como inflação elevada, expectativas desancoradas, desaceleração econômica doméstica ainda incipiente e cenário global adverso, o Copom justificou a elevação da taxa de juros e sinalizou que suas decisões futuras dependerão da evolução dos indicadores econômicos e da trajetória da inflação.