O rio Negro atingiu, nesta segunda-feira (16), seu nível mais baixo em 120 anos de medição em Manaus, quebrando o recorde negativo estabelecido em 2010. De acordo com os dados do Porto de Manaus, a cota do rio está em 13,59 m. Em 24 de outubro de 2010, a cota foi de 13,63 m, a pior medição registrada até então.
Segundo o climatologista e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Renato Senna, espera-se que o rio continue a baixar. Com base nos dados históricos, as grandes secas costumam se prolongar até o final de outubro e início de novembro.
A estiagem histórica tem causado impactos nas paisagens e na vida das pessoas que dependem do rio na capital amazonense. Na Marina do Davi, por exemplo, onde partem embarcações para praias e comunidades próximas aos centros urbanos, a situação é desoladora.
As embarcações flutuantes que antes serviam como pontos de venda de passagens e embarque de passageiros estão agora ilhadas no leito seco do rio, sem utilidade. Outras embarcações estão encalhadas na lama. Para acessar o rio, é necessário caminhar por passarelas improvisadas de madeira, construídas em áreas que antes eram totalmente cobertas por água.
Nas comunidades e praias ribeirinhas, os relatos são de isolamento, lama e escassez de suprimentos.
Situações extremas de seca também estão ocorrendo em outros pontos da Amazônia este ano. No médio Solimões, igarapés secaram completamente, obrigando os moradores ribeirinhos a caminharem quilômetros com galões de água nos ombros até as torneiras em Tefé (AM) para obterem água potável.
Nas proximidades das Terras Indígenas Porto Praia de Baixo e Boará/Boarazinho, também na região de Tefé, o rio Solimões se transformou em um deserto com bancos de areia que se estendem até onde a vista alcança.
Os indígenas estão enfrentando dificuldades para escoar suas produções de farinha e banana. Em algumas comunidades, o consumo de água parada em igarapés tem causado surtos de doenças como diarreia, vômito, febre e dor de estômago.
Pela primeira vez, pesquisadores tiveram que empurrar botos vermelhos – conhecidos como botos cor-de-rosa – e tucuxis – uma espécie menor de boto – para fora de uma enseada rica em peixes próxima ao porto de Tefé. Essa foi a maneira encontrada para garantir a sobrevivência desses animais. Em setembro, mais de 140 botos morreram no lago devido à temperatura da água, que chegou a atingir 39 graus.
No curso do rio Madeira, a usina hidrelétrica Santo Antônio, a quarta maior do país localizada em Rondônia, teve que suspender suas operações.
Segundo a Defesa Civil do estado do Amazonas, dos 62 municípios, 50 estão em situação de emergência e 10 em alerta. Os especialistas destacam que a situação no rio Jutaí, no oeste do Amazonas, merece atenção especial, pois enfrenta uma seca sem precedentes nos últimos 15 anos.
A seca na Amazônia é um fenômeno complexo que tem causas naturais e humanas. Entre as causas naturais estão as mudanças climáticas, que estão causando um aumento da temperatura global e uma redução das chuvas na região. Entre as causas humanas estão o desmatamento, que diminui a capacidade da floresta de reter água, e a poluição, que prejudica a qualidade das chuvas.
A seca na Amazônia é uma ameaça à biodiversidade, à saúde das populações ribeirinhas e à economia da região. É fundamental que sejam tomadas medidas para mitigar os impactos da seca e promover a sustentabilidade na Amazônia.