O Brasil poderá perder uma área de floresta equivalente a cerca de 50 campos de futebol por mês ao longo dos próximos 25 anos, como resultado da demanda por carros elétricos (EVs) na União Europeia. A estimativa consta em relatório das organizações Fern e Rainforest Foundation Norway, apresentado durante fórum da OCDE sobre os impactos da mineração no mundo.
Segundo o levantamento, os minerais críticos usados na produção de baterias — como lítio, níquel, cobre, cobalto, ferro, bauxita, fosfato e manganês — são essenciais para que a UE alcance a neutralidade de carbono até 2050. No entanto, a extração desses elementos contribui para o desmatamento de florestas tropicais, incluindo regiões brasileiras.
O estudo prevê que a extração desses minerais pode levar à destruição de até 120 mil hectares de florestas globalmente até 2050, com o Brasil respondendo por uma parcela significativa dessa perda, dependendo do tipo de tecnologia adotada nas baterias.
Cenários de impacto das baterias de carros elétricos
Três cenários diferentes foram considerados para avaliar os impactos ambientais da mineração associada à produção de baterias:
- Cenário 1: Uso variado de tecnologias de bateria – Indonésia responde por 42% e Brasil por 18% do desmatamento.
- Cenário 2: Todos os veículos utilizam baterias NMC 811 (com lítio, níquel e cobalto) – Indonésia representa 63% e Brasil, 11% do desmatamento.
- Cenário 3: Adoção de baterias LFP (com lítio, ferro e fosfato) – Brasil se torna o mais afetado, com 36% do desmatamento.
Apesar da responsabilidade ambiental, a Europa aparece com menos de 1% do desmatamento global ligado à mineração para baterias de veículos elétricos. Mais da metade dos depósitos minerais mapeados está localizada em territórios indígenas ou próximos a comunidades de agricultura familiar.
Alternativas sustentáveis podem reduzir impacto ambiental
Os pesquisadores sugerem que a adoção de novas tecnologias e a mudança de hábitos de mobilidade podem reduzir significativamente o desmatamento. Segundo o relatório, a área total devastada cairia de 120 mil para pouco mais de 20 mil hectares caso as baterias LFP fossem combinadas com práticas como:
- Maior uso de caronas e veículos compartilhados
- Popularização de microcarros
- Redução do total de quilômetros percorridos por passageiros
Carros elétricos e o custo elevado
Além do impacto ambiental, o alto custo dos carros elétricos continua sendo um entrave. No Brasil, o modelo mais acessível da BYD custa cerca de R$ 150 mil, valor incompatível com a renda média nacional. Mesmo em caso de lançamentos mais econômicos, dificilmente os preços caem abaixo de R$ 100 mil.
Segundo especialistas, a aquisição desses veículos só se mostra viável para consumidores com alto poder aquisitivo. Além do preço de compra, os custos com IPVA, manutenção e seguro também são mais elevados.
Na Europa, o cenário é semelhante. Os altos preços são compensados por incentivos fiscais oferecidos por governos locais, o que levanta discussões sobre a regressividade dessas políticas, que favorecem majoritariamente os mais ricos.